O HOLOCAUSTO BRASILEIRO

Ah... Meu pessimismo e ateísmo estavam, vamos dizer, arrefecidos... Coube à "cordialidade" do brasileiro acordá-los. Barbacena nunca mais!

Leituras que fortalecerão o nosso pessimismo.

  • "As Intermitências da Morte" de Saramago
  • "Os Ratos" de Dyonélio Machado

29.12.06

O ano que nunca termina


QUERIA DIZER MUITAS COISAS, CAROS PESSIMISTAS.
MAS O MUNDINHO CONTINUA NA MESMA, SAI ANO, ENTRA ANO. OS TEXTOS E AS FOTOS ABAIXO RELEMBRAM-NOS NOSSA MESQUINHEZ AO TRATAR DO ASSUNTO. A FOME É REAL NO MUNDO.
ELA FOI PASSADO, ELA É PRESENTE E SERÁ FUTURO.
+ + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + +
"SOMOS MAIS RATOS DO QUE OS PRÓPRIOS RATOS"

Publicado na Folha de S.Paulo, terça-feira, 18 de outubro de 1994

“Da Agência Folha, em Recife
Maria das Dores da Conceição, 40, vive de catar lixo no aterro sanitário de Timbaúba e diz que come rato ``desde pequena''.
``O que tiver aí (aponta para o lixão) a gente come para não morrer de fome'', disse.
Com oito filhos que, segundo ela, também comem rato, Maria da Conceição afirma que nunca ficou doente por causa da comida.
De acordo com ela, a única coisa que as pessoas de sua família sentem é dor de cabeça, às vezes, mas ``por causa do sol''. ``Dor de barriga mesmo nunca deu'', afirmou ela.
A catadora de lixo captura os ratos que se escondem em buracos no depósito de lixo e depois cozinha os animais em uma fogueira.
O ``acompanhamento'' depende do que vier no lixo. Maria das Dores diz que varia de batata até cabeça de galinha.
``Nós somos mais ratos do que os próprios ratos'', afirma. A seguir, trechos da entrevista de Maria da Conceição à Agência Folha ontem à tarde.
Agência Folha - Você come os ratos que vivem no lixo?
Maria das Dores da Conceição - Como. Eu e todo mundo aqui. Não temos condições de comer outra coisa, então comemos rato para não morrer de fome.
Agência Folha - Como é que vocês comem o rato?
Maria - A gente pega o rato, joga na fogueira e raspa o cabelinho. Depois abre a barriga, tira as tripas, a cabeça e os pés, lava, põe sal e cozinha na brasa. Faço com batata, cabeça de galinha, o que vier no lixo.
Agência Folha - Alguém já foi mordido por um rato ou passou mal depois que comeu?
Maria - Nunca ninguém passou mal por causa da comida. A gente sente uma dor de cabeça às vezes, mas é do sol. Dor de barriga mesmo nunca deu. Nós somos mais ratos do que os próprios ratos

CIRCULO DE DANTE

Publicado na Folha da Manhã, segunda-feira, 19 de Abril de 1926

“Nas ruas de S.Paulo, nos mais febril dos bairros paulistas, no Braz morre-se de fome, em plena luz do sol! Morre-se de fome e não ha, sinão da parte dos operarios de lá, quem soccorra, quem se ponha em pé e brade em prol dos agonizantes do pão. Si o caso se passasse nos presídios de quasi além fronteiras, no extremo norte do paiz, a distancia haveria de minorar a desolação da verdade e muitos jornaes chamariam pelos infelizes, como se agitaria a organizada e ostentatoria caridade paulista. Entretanto, a fome trucida corpos a dois passos do centro, nas ruas adjacentes á Immigração. A fome abate ahi corpos de creanças inermes, de mulheres indefesas, de velhos que se esturram ao nosso sol, que se afogam no lamaçal daquellas sargetas, inanidos pelo jejum dolosso de não ter, de não saber imploral-o, porque desconhecem a lingua do paiz. E cá em cima quem se lembra delles, na hora farta da mesa lauta e bem regada? Quem dentre os directores de associações de caridade já se moveu até á Moóca para "de visu" verificar a mentira das noticias que certos interessados espalham na cidade? Onde a obra dos catholicos dos protestantes, dos espiritas, de todos que se dizem imitadores de Christo, caritativos dos momentos de effeito, nunca, porém, dos instantes necessarios? Nestes dias em que os moradores daquele bairro se affligem com a dolorosa visão de creança a agonizar nas calçadas, febrentas, com sarampo; quando os proprios encarcerados da Immigração protestar e clamam contra a perseguição que se move a esses pobres camponezes da Bessarabia, qual foi a representante da Cruz Vermelha, da Cruz Verde e não sabemos que outras côres, das senhoras catholicas ou de Therezinha de Jesus, que por lá surgiu, expondo-se a macular da lama os seus tacões a Luis XV?
Agora é que a caridade deveria fulgir, divino, a levar o conforto mais commum, um pedaço de pão, a esses homens, christãos e humanos como nós, que se extertoram nas garras da fome e da miseria mais completa. Agora seria o momento... e comtudo, justamente aquelles que menos podem, os operarios das fabricas, é que têm sido os unicos a surgir nesse quartel de desgraça humana. Num barracão, ao lado, uma familia de trabalhadores pauperrimos, acolhem um grupo desses infelizes: hontem, falleceram alli, duas creanças inanidas. Numa rapida vísita que lhe fizemos, veio-nos ao encontro um menino: a pelle parecia de pecego, sem sangue e mirrada; as pernas eram dois birros e tremia de febre, de fome. Pelas calçadas, moças desalentadas se estiravam, sem animo até para pedir. Amontoados e famintos, tresandam horrivelmente, ameaçando um epidemia virulenta. Pequeninos de alguns annos roiam pedaços de cenoura crua, pondo as mãosinha supplices aos que passavam. O nosso espanto foi crescendo á medida que penetravamos naquelle circulo de Dante, mas, odne cresceu de horror foi ao encontrarmos, entre esses extrangeiros sem pão, brasileiros, caboclos, pretos, esfaimados também. Ouçam, paulistas que se dizem christãos, ouçam e se quizerem certificar-se, vão até lá - entre extrangeiros que morrem de fome, em pleno coração de S.Paulo, ha brasileiros, ha outros paulistas que padecem da mesma falta de pão. Mas será crivel que até agora sejamos nós os unicos presenciadores de tamanha afflicção? E vós, senhores, que tendes filhos, que tendes mãe, porque não ides a essas pavorosas immediações da Immgração? Ide e se não chorardes, não sois brasileiros, porque não tendes coração. Alguem vos haverá dito que esses famintos são maus, são salteadores de lares de transuentes, nas ruas. Mentira! Ao redor dessa miseria toda, em frente a esse cemiterio onde agonizam e morrem de fome, ha botequins, ha negocios, ha padarias, há tudo e até hoje, uma fructa siquer desappareceu. E se elles roubassem para não morrer de inanição? A propria moral catholica o permittiria e o proprio Christo assim fez outróra. A verdade é que, em S. Paulo, no Braz, pelas ruas adjacentes á Immigração, morre-se de fome. Morrer de fome no Brasil!!! É espantoso, é horroroso! Morrer de fome em S. Paulo!... é uma afronta ao nosso coração.”

ETIÓPIA: 6 MILHÕES DE FAMINTOS


FOME MATA UMA CRIANÇA A CADA CINCO SEGUNDOS NO MUNDO



O SÉCULO DA FOME (OU TODOS OS SÉCULOS DA FOME)


38 MILHÕES DE FAMINTOS NA ÁFRICA

A POPULAÇÃO DA ETIÓPIA SOFRE COM A FOME


3,5 MILHÕES DE FAMINTOS NO QUÊNIA

CORÉIA DO NORTE SOFRE COM A FOME


A FOME NO AFEGANISTÃO


FOME ATÉ NA ARGENTINA


... O TEMPO CORRE, MAS A IMAGEM DO PASSADO NÃO DEIXA A FOME MENTIR.


A FOME É PRÁ MUITOS...

A FOME É PRÁ MUITOS...

A FOME É PRÁ MUITOS...

E MATA!!!


Textos da Folha, imagens da BBC-BRASIL e GOOGLE.

3.12.06

Eles nos espreitam esperando a hora de nos "baionetar".

O Triunfo da Morte, Pieter Brueghel, o Velho (1572)

Amigos pessimistas.
Estamos tristíssimos.
Pinochet morreu e não alimentará nem mesmo os vermes de que fala Machado, em Memórias Póstumas.
O mundo melhorou um pouquinho, mas não nos iludamos.
Seus adeptos nos espreitam pelos canos de seus fuzis, com as baionetas alertas.
Eles fortalecem o nosso pessimismo.
Ufa! Ainda bem!
A história explica.

1964

I
Céu azul
Sobre um mar de sonhos: nós.

II
Mas, minha nuvem favorita
Esgueirou-se lá prás bandas do inferno.
Voou, assim, como um pássaro ferido,
Impelido por um vento esquisito.

III
Céu metálico

Sobre prédios cinzentos: eles.

IV
Uma casa desabitada,
Uma carapaça oca: nós.

V
Ah!!!!
A esperança.
Ela morreu
Na barriga inchada de nossas mães.

Buê/1981

24.11.06

Comentem... Comentem... Comentem... mesmo que anonimamente.

Caro Pessimista.
Vá lá que o humanóide queira destruir sua casa, mas quantas vezes? O arsenal bélico nuclear poderá destruir a terra muitas vezes. Ora, não basta uma destruição, só? Eles querem ter a certeza de que não sobrará um grão de pó dos terráqueos para contar a história.
Clique no endereço avermelhado e veja como tudo começou ou terminará.

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraDownload.do?select_action=&co_obra=2220&co_midia=6

Para completar o péssimo dia de ontem: somente no Iraque 160 pessimistas perderam a vida da forma mais cruel - boooooommmm!!!!!, hoje veiculo algumas palavras do Franco, que escapuliu para sete palmos no mês passado. Grande pessimista e................ amigo.

NO LIMIAR DA PERNÍCIE

I

O Apocalípse baixou
Tudo se findou
E o Mundo acabou...
Fetos deixaram-se ficar
Vagando pela Imaginação
Repleta de Ovários ambulantes.
Excrementos fétidos
Misturando-se com almas
Na Via-Láctea da Fantasia
Formavam Monstros de Tédio e Esperma.
Ecos de gritos de adolescentes
Pervertidos ressoam nos Ouvidos
Da Imensidão do Desespêro.
Auroras desenham Trombetas
De Delírios anunciando
O Tempo Ressurgido
Dos Subterrâneos da Pureza
Amortalhada pela Cáos
Do desnudo Desprêzo
Do fundo do meu Asco!

Franco, 26-2-66

15.11.06

Rattus Rattus; Rattus norvegicus; Mus Musculus


"Os Ratos" de Dyonélio Machado, livro de 1936, marca o seu tempo e se perpetua pelos nossos dias: sua atualidade está no fato de narrar o cotidiano terrível de um ser humano que busca incessantemente resolver um problema banal: pagar o leiteiro e ficar de olho nos ratos que talvez o assaltem.

Caríssimo amigo pessimista, antes do livro, como você se sentiria ao ser chamado de rato? Como pessimista seria um privilégio; como outro qualquer estaria esbravejando aos quatro ventos sua indignação.

Mas antes do livro e de sua resposta, veja o que o dicionário - pai de todos os burros, pessimistas ou otimistas - nos diz do pobre bichinho: "Rato, s.m. Designação de mamíferos roedores cujas espécies mais comuns são: o rato-doméstico (Rattus Rattus (Lin.)), o ratazana de esgoto (Rattus norvegicus (Lin.)), o rato-calunga (Mus Musculus (Lin.)) etc; larápio, ratoneiro; - de biblioteca: indivíduo maníaco por investigações em biblioteca e arquivos; - de hotel: gatuno que age nos hotéis; - de sacristia: carola que anda sempre nas igrejas e sacristias; - adj. da cor do rato: cavalo rato; excêntrico; ridículo."
Tais mamíferos roedores servem à ciência, desde épocas remotas, como cobaias para as pesquisas de cientistas que buscam a cura para as doenças. Está escrito em algum lugar que, na falta do rato, o ser humano seria acometido por muitas doenças que acabam primeiramente atingindo o roedor. O homem sobreviveu até hoje graças ao emprego das táticas de ratazanas: desde morar em cavernas, favelas, prédios de oitocentos andares até morar em esgotos; desde comer a carne animal - pútrida e fétida - até a própria carne, quando sente fome.

Assim sendo, BUÊ lança aqui um manifesto: viva o Rattus Rattus, o Rattus norvegicus e o Mus Musculus, redentores da civilização. Que os roedores desapareçam para aniquilar a raça humana. Só assim o mundo seria mais belo.

Mas enquanto o fim não vem, fica para amanhã outras idéia-otas sobre "Os Ratos" - se não chover e acabar com a energia que alimenta o maldito computador.

12.11.06

Morte


H A V E R Á U M T E M P O

E M Q U E O S I L Ê N C I O

S E R Á A V O Z D O M U N D O.

Buê/1975

11.11.06

Mais pessimismo... agora num pretenso poema, sem nome.


Inverno no inferno natural.
Traços de passos cansados
Arrastam-se lerdos
Por rumos enigmáticos.
Nem bebe do sol sua luz amarela.
Objeto andante
Ausenta-se indo.
Evanescente,
Esquece que existe.
É velho,
É resto de alguma coisa.

Buê/1974

10.11.06

O otimista não vê a realidade.

"Israel mata 8 crianças em Gaza, e Hamas cobra revide".
Matéria da Folha de São Paulo, em 09/11/2006. A mídia fatura com as desgraças... portanto o pessimismo está na moda.
Como não ser pessimista diante da realidade cruel que nos rodeia?
"Homem observa corpos de uma mulher palestina e de duas filhas dela, vítimas do ataque israelense em Beit Hanoum, em Gaza." E todos observamos pelo ângulo da câmera do fotógrafo Salem. Agora que a foto nos mostrou a cena, feche os olhos e sinta o cheiro de morte que envolve o ambiente, toque no sangue colado aos corpos inertes e na pele macilenta das vítimas e finalmente ouça a tristeza que envolve o lugar. Veja, toque, ouça, cheire. Talvez assim, na observação de uma devastadora foto, possamos revelar nossa perplexidade e gritar: CHEGA DE TODAS AS GUERRAS.
Outras fotos virão de vítimas inocentes, pois o revide, próprio do homem, virá inexoravelmente.
Não há como não estar no extremo do pessimismo e concluir que dá vergonha de/do ser humano.
Completando minhas preferências que não aparecem no perfil deste blog, apesar de anotados:
- Livros: Todos... obviamente somente aqueles de Kafka.
- Sobra um pouco de favoritismo para "Os Ratos" de Dyonelio Machado - genial.

7.11.06

O não existir: a única liberdade.


Ele consultou a passagem da bíblia em que o mundo acabaria, como sua vida estava acabando. As palavras fluíam das páginas e como brasa queimavam sua face. A face da morte idealizada e a face da morte real e inevitável, lado a lado. Sentia que seu corpo doído e mutilado era mantido pelo aparelhamento técnico na sala branca do hospital que contava minuciosamente em números seu sofrimento. Somente seus olhos chamuscavam uma centelha de vida e buscavam no quarto sua vida que se esvaía.
Como numa tela de cinema, o teto branco refletia imagens de outrora.
- Roberto, vem almoçar. A comida vai esfriar e precisamos sair.
Seus olhos eram seus ouvidos. Somente as imagens resplandeciam coloridamente na alvura do teto. E tais imagens eram de uma mulher ainda vigorosa que trabalhava incessantemente pelo menino que brincava sem preocupações. Os negros cabelos presos eram uma moldura para um rosto maquiado com discrição. Lembranças de um tempo despreocupado.
Após o almoço, ele e a mãe saíram para visitar o pai que estava internado no hospital, tal como ele, agora. Quando das visitas, que eram bem rápidas, a mãe explicava-lhe a situação aflitante do pai. Mas ele dava de ombros. Não se preocupava, pois as palavras da mãe sempre eram de ternura, de aconchego, de amparo, de carinho.
- Roberto, a morte é uma passagem que nos leva para um lugar melhor do que este.
E para ele a existência de um lugar melhor do que este, tanto melhor, pois sua vida era maravilhosa. O pai faleceria em poucos dias, sem sofrimento, sem maiores dores.
Aquelas palavras da mãe cristalizaram-se em sua mente e durante toda a sua vida não se preocupou em buscar sentido para a vida, simplesmente vivia, mesmo com a morte de entes queridos. Mas agora sua vida estava se esvaindo e a dúvida o assombrava: como seria o outro lado? Melhor? Como dizia a mãe?
Nos velórios sentia-se como se aquele lugar não fizesse parte do mundo real. Era um apêndice da vida. O defunto jazendo inerte no meio da sala, ora com visitas, com vozes, choros, rezas; ora rodeado pelo silêncio absoluto de uma sala vazia e iluminada. Em poucas horas se renovaria o morto. E a sua hora estava chegando.
De repente, seus olhos pressentem um burburinho na sala. Os aparelhos endoidaram e a medicaiada está ao seu lado. Não consegue atinar para o que ocorre. Seus olhos buscam respostas. Sente no peito mãos que o apalpam vigorosamente. Sua respiração é lenta e lentamente as imagens vão desaparecendo e o negrume vai tomando conta de sua mente. Ele morre com as mãos às páginas rasgadas da bíblia que se espatifa pelo chão.

4.11.06

A morte pela TV



Ao vivo pela TV e no dia seguinte...
Ele apareceu em manchete na Folha.
Seu semblante irradiava raiva, medo, desesperança, fim.
Incendiou a matança e morreu.
Sua voz inaudível eterna-se num filme, triste filme.
Protagonista de uma história que não acaba nunca:
A violência, sempre.

26.8.06

A derrama e o IPTU de Marília - SP - final


O caldo ácido derramado sobre as nossas cabeças em 1999 nos leva à cidade de Vila Rica, na capitania de Minas Gerais, no século XVIII. Ali começava o Brasil. Talvez tenhamos que reinventar o Brasil a partir do nosso grito por menos impostos.

"A cada ação corresponde uma reação. A explicação vem da física, mas pode ser aplicada aos movimentos sociais. Em Vila Rica não foi diferente. Mesmo com a devassa a derrama teve que ser suspensa. Apesar disso nasceria ali um movimento que vislumbraria a libertação do Brasil do jugo português e suas forças imperialistas.
Tanto lá, no remoto século dezoito, onde Tiradentes foi enforcado e esquartejado, onde outros inconfidentes foram degredados, ou cometeram suicídio ou foram assassinados, por conspirarem pela mudança de uma situação que levava a província à miséria, como cá, parece-me que nada mudou - somente os métodos e os nomes.
Somos governados de cima pra baixo, oligarquicamente, como um medonho cometa que invade nosso espaço. Em seu rastro de fogo sucumbimos todos. Sangramos até a morte quando nossas economias são atacadas por sinistras siglas: IPI, ICMS, IPVA, CPMF, IOF, IRPF, IRPJ, CONFINS, INSS, FGTS, ISS, IPTU.
Não se deve esquecer que o bem-estar do povo é ponto de partida e ponto de chegada para a tomada de qualquer atitude pelos políticos.
Sr. Prefeito, diferentemente do ocorrido em 21 de abril de 1792, quando Tiradentes foi enforcado e esquartejado, seus bens confiscados, sua residência destruída, o terreno salgado para que ali nada nascesse e sua família execrada para sempre pela coroa portuguesa, hoje, ainda que de forma incipiente, temos meios para expressar nossa consciência libertária. Nossa indignação pelo que ocorre nos porões da política, dando-nos a possiblidade de expressão, de informação e de crítica.
Incito a todos os cidadãos para levantarem uma bandeira simbólica gigantesca de patriotismo, onde vislumbre o lema dos inconfidentes "libertas quae sera tamen" (liberdade ainda que tardia). Bandeira que paire sobre toda a cidade para que cada cidadão mariliense seja capaz de analisar, questionar, criticar e cobrar de seus representantes na câmara municipal, a qualquer momento, que seus direitos sejam respeitados. E principalmente quando puderem mudar a cena através da urna, votando conscientemente.
Suicídios, jamais. Humilhações, jamais. Torturas, jamais. Profissionais da política, jamais.
Srs. cidadãos, juntemos nossas forças com objetivo de mudar a realidade para que poetas, como Bandeira, não façam versos como os que seguem:
O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa
Não examinava, nem cheirava:
Engolia com verocidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Rio, 27 de dezembro de 1947."

25.8.06

A derrama e o IPTU de Marília - SP






O que vem a seguir foi escrito em 1999, quando o prefeito da cidade de Marília (SP), Sr. Abelardo Camarinha, com a devida colaboração dos vereadores da Câmara Municipal, derramou sobre a população o caldo ácido do novo IPTU - corrosivo e escorchante. Cumpre lembrar que algumas taxas imbutidas no imposto foram consideradas inconstitucionais pelo Ministério Público, hoje:
"Sr. Prefeito,
O senhor vem afirmando que Marília não sente os mesmos efeitos negativos que outras cidades do país e do estado de São Paulo vêm sentindo, problemas gerados pela devastadora recessão que se instalou no país e que assola grande parte dos trabalhadores, retirando-lhe o emprego e que ronda aqueles que estão empregados ou possuem algum negócio próprio.
A sua propaganda, veiculada e facilitada pelo meios de comunicação de Marília, relaciona sempre a 'boa' saúde econômico-financeira do município, com grandes realizações - como se isso não fosse o dever de qualquer governante- ao pagamento do IPTU. Realizações que cheiram mal, canteiros de obras que povoam as ruas da cidade e com grandes promessas, tais como, a construção da nova rodoviária, sem que a população fosse ouvida - lembrem-se dos esqueletos de aço e concreto de obras inacabadas que se erguem por toda a cidade, inclusive da atual rodoviária e de obras que solucionariam o problema de falta de água na cidade.
Tal situação, tão extraordinariamente propalada por V. Exa., não seria fruto do ocorrido antes de sua posse, quando um grupo de vereadores, totalmente desvinculados da realidade nacional e local, em fim de mandato e bem intencionados com seus interesses, aprovou na surdina e na 'calada da noite' no último dia da legislatura, os aumentos escorchantes e abusivos do IPTU, os quais não foram explicados - e nunca o serão? Aumentos que chegaram a quinhentos por cento, quando no ano de 1996 a economia nacional encontrava-se estabilizada com índices de inflação abaixo de quinze porcento ao ano.
Esses vereadores que aprovaram os aumentos, Sr. Prefeito, foram reeleitos? Onde se encontram? Que caminhos tomaram? Alguns envergonhados, talvez, estejam amargando as conseqüências de seus atos; outros, talvez, usufruindo das benesses conseguidas às custas, pergunto, de quem?
Tais aumentos do imposto formulados discretamente na Câmara Municipal, sem que a população fosse ouvida, nos remetem ao episódio histórico denominado 'a derrama' ocorrido no século XVIII, na capitania de Minas Gerais."
As conseqüências para a nossa história saberemos amanhã.