O HOLOCAUSTO BRASILEIRO

Ah... Meu pessimismo e ateísmo estavam, vamos dizer, arrefecidos... Coube à "cordialidade" do brasileiro acordá-los. Barbacena nunca mais!

Leituras que fortalecerão o nosso pessimismo.

  • "As Intermitências da Morte" de Saramago
  • "Os Ratos" de Dyonélio Machado

24.11.06

Comentem... Comentem... Comentem... mesmo que anonimamente.

Caro Pessimista.
Vá lá que o humanóide queira destruir sua casa, mas quantas vezes? O arsenal bélico nuclear poderá destruir a terra muitas vezes. Ora, não basta uma destruição, só? Eles querem ter a certeza de que não sobrará um grão de pó dos terráqueos para contar a história.
Clique no endereço avermelhado e veja como tudo começou ou terminará.

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraDownload.do?select_action=&co_obra=2220&co_midia=6

Para completar o péssimo dia de ontem: somente no Iraque 160 pessimistas perderam a vida da forma mais cruel - boooooommmm!!!!!, hoje veiculo algumas palavras do Franco, que escapuliu para sete palmos no mês passado. Grande pessimista e................ amigo.

NO LIMIAR DA PERNÍCIE

I

O Apocalípse baixou
Tudo se findou
E o Mundo acabou...
Fetos deixaram-se ficar
Vagando pela Imaginação
Repleta de Ovários ambulantes.
Excrementos fétidos
Misturando-se com almas
Na Via-Láctea da Fantasia
Formavam Monstros de Tédio e Esperma.
Ecos de gritos de adolescentes
Pervertidos ressoam nos Ouvidos
Da Imensidão do Desespêro.
Auroras desenham Trombetas
De Delírios anunciando
O Tempo Ressurgido
Dos Subterrâneos da Pureza
Amortalhada pela Cáos
Do desnudo Desprêzo
Do fundo do meu Asco!

Franco, 26-2-66

15.11.06

Rattus Rattus; Rattus norvegicus; Mus Musculus


"Os Ratos" de Dyonélio Machado, livro de 1936, marca o seu tempo e se perpetua pelos nossos dias: sua atualidade está no fato de narrar o cotidiano terrível de um ser humano que busca incessantemente resolver um problema banal: pagar o leiteiro e ficar de olho nos ratos que talvez o assaltem.

Caríssimo amigo pessimista, antes do livro, como você se sentiria ao ser chamado de rato? Como pessimista seria um privilégio; como outro qualquer estaria esbravejando aos quatro ventos sua indignação.

Mas antes do livro e de sua resposta, veja o que o dicionário - pai de todos os burros, pessimistas ou otimistas - nos diz do pobre bichinho: "Rato, s.m. Designação de mamíferos roedores cujas espécies mais comuns são: o rato-doméstico (Rattus Rattus (Lin.)), o ratazana de esgoto (Rattus norvegicus (Lin.)), o rato-calunga (Mus Musculus (Lin.)) etc; larápio, ratoneiro; - de biblioteca: indivíduo maníaco por investigações em biblioteca e arquivos; - de hotel: gatuno que age nos hotéis; - de sacristia: carola que anda sempre nas igrejas e sacristias; - adj. da cor do rato: cavalo rato; excêntrico; ridículo."
Tais mamíferos roedores servem à ciência, desde épocas remotas, como cobaias para as pesquisas de cientistas que buscam a cura para as doenças. Está escrito em algum lugar que, na falta do rato, o ser humano seria acometido por muitas doenças que acabam primeiramente atingindo o roedor. O homem sobreviveu até hoje graças ao emprego das táticas de ratazanas: desde morar em cavernas, favelas, prédios de oitocentos andares até morar em esgotos; desde comer a carne animal - pútrida e fétida - até a própria carne, quando sente fome.

Assim sendo, BUÊ lança aqui um manifesto: viva o Rattus Rattus, o Rattus norvegicus e o Mus Musculus, redentores da civilização. Que os roedores desapareçam para aniquilar a raça humana. Só assim o mundo seria mais belo.

Mas enquanto o fim não vem, fica para amanhã outras idéia-otas sobre "Os Ratos" - se não chover e acabar com a energia que alimenta o maldito computador.

12.11.06

Morte


H A V E R Á U M T E M P O

E M Q U E O S I L Ê N C I O

S E R Á A V O Z D O M U N D O.

Buê/1975

11.11.06

Mais pessimismo... agora num pretenso poema, sem nome.


Inverno no inferno natural.
Traços de passos cansados
Arrastam-se lerdos
Por rumos enigmáticos.
Nem bebe do sol sua luz amarela.
Objeto andante
Ausenta-se indo.
Evanescente,
Esquece que existe.
É velho,
É resto de alguma coisa.

Buê/1974

10.11.06

O otimista não vê a realidade.

"Israel mata 8 crianças em Gaza, e Hamas cobra revide".
Matéria da Folha de São Paulo, em 09/11/2006. A mídia fatura com as desgraças... portanto o pessimismo está na moda.
Como não ser pessimista diante da realidade cruel que nos rodeia?
"Homem observa corpos de uma mulher palestina e de duas filhas dela, vítimas do ataque israelense em Beit Hanoum, em Gaza." E todos observamos pelo ângulo da câmera do fotógrafo Salem. Agora que a foto nos mostrou a cena, feche os olhos e sinta o cheiro de morte que envolve o ambiente, toque no sangue colado aos corpos inertes e na pele macilenta das vítimas e finalmente ouça a tristeza que envolve o lugar. Veja, toque, ouça, cheire. Talvez assim, na observação de uma devastadora foto, possamos revelar nossa perplexidade e gritar: CHEGA DE TODAS AS GUERRAS.
Outras fotos virão de vítimas inocentes, pois o revide, próprio do homem, virá inexoravelmente.
Não há como não estar no extremo do pessimismo e concluir que dá vergonha de/do ser humano.
Completando minhas preferências que não aparecem no perfil deste blog, apesar de anotados:
- Livros: Todos... obviamente somente aqueles de Kafka.
- Sobra um pouco de favoritismo para "Os Ratos" de Dyonelio Machado - genial.

7.11.06

O não existir: a única liberdade.


Ele consultou a passagem da bíblia em que o mundo acabaria, como sua vida estava acabando. As palavras fluíam das páginas e como brasa queimavam sua face. A face da morte idealizada e a face da morte real e inevitável, lado a lado. Sentia que seu corpo doído e mutilado era mantido pelo aparelhamento técnico na sala branca do hospital que contava minuciosamente em números seu sofrimento. Somente seus olhos chamuscavam uma centelha de vida e buscavam no quarto sua vida que se esvaía.
Como numa tela de cinema, o teto branco refletia imagens de outrora.
- Roberto, vem almoçar. A comida vai esfriar e precisamos sair.
Seus olhos eram seus ouvidos. Somente as imagens resplandeciam coloridamente na alvura do teto. E tais imagens eram de uma mulher ainda vigorosa que trabalhava incessantemente pelo menino que brincava sem preocupações. Os negros cabelos presos eram uma moldura para um rosto maquiado com discrição. Lembranças de um tempo despreocupado.
Após o almoço, ele e a mãe saíram para visitar o pai que estava internado no hospital, tal como ele, agora. Quando das visitas, que eram bem rápidas, a mãe explicava-lhe a situação aflitante do pai. Mas ele dava de ombros. Não se preocupava, pois as palavras da mãe sempre eram de ternura, de aconchego, de amparo, de carinho.
- Roberto, a morte é uma passagem que nos leva para um lugar melhor do que este.
E para ele a existência de um lugar melhor do que este, tanto melhor, pois sua vida era maravilhosa. O pai faleceria em poucos dias, sem sofrimento, sem maiores dores.
Aquelas palavras da mãe cristalizaram-se em sua mente e durante toda a sua vida não se preocupou em buscar sentido para a vida, simplesmente vivia, mesmo com a morte de entes queridos. Mas agora sua vida estava se esvaindo e a dúvida o assombrava: como seria o outro lado? Melhor? Como dizia a mãe?
Nos velórios sentia-se como se aquele lugar não fizesse parte do mundo real. Era um apêndice da vida. O defunto jazendo inerte no meio da sala, ora com visitas, com vozes, choros, rezas; ora rodeado pelo silêncio absoluto de uma sala vazia e iluminada. Em poucas horas se renovaria o morto. E a sua hora estava chegando.
De repente, seus olhos pressentem um burburinho na sala. Os aparelhos endoidaram e a medicaiada está ao seu lado. Não consegue atinar para o que ocorre. Seus olhos buscam respostas. Sente no peito mãos que o apalpam vigorosamente. Sua respiração é lenta e lentamente as imagens vão desaparecendo e o negrume vai tomando conta de sua mente. Ele morre com as mãos às páginas rasgadas da bíblia que se espatifa pelo chão.

4.11.06

A morte pela TV



Ao vivo pela TV e no dia seguinte...
Ele apareceu em manchete na Folha.
Seu semblante irradiava raiva, medo, desesperança, fim.
Incendiou a matança e morreu.
Sua voz inaudível eterna-se num filme, triste filme.
Protagonista de uma história que não acaba nunca:
A violência, sempre.