A idade já avançada pesa-lhe nas costas e a vitalidade de outrora ficou presa na lembrança passadista. Mesmo assim seus pesados passos percorrem a distância com alguma facilidade buscando enganar a morte que se avizinha; mesmo assim as tarefas diárias são realizadas a contento apesar da ofegância pulmonar tirar-lhe a capacidade plena de vida.
Certa manhã, o previsto aconteceu. Um buraco na rua, resultado da inoperância governista, coloca-o abaixo e estatelado no asfalto geme uma dor nunca antes sentida. A demora no atendimento médico, com a ambulância chegando muito tempo depois do ocorrido, faz seu corpo velho sofrer: a quebradura atingiu a base do fêmur.
Vários dias de internação, o diagnóstico médico é certeiro: o velho precisa de cirurgia para o implante de prótese.
Cirurgia delicada, o velho passa pela situação com muita galhardia e coragem e a recuperação será lenta e dolorosa.
Mas ele resiste e a morte é adiada mais uma vez.
A obsolescência programada ficou para trás. Seu prazo de validade está expirando, mas ainda corre o sangue pelas grossas veias como caminhos que levam a lugar nenhum.
Caminhos que todos sabemos onde vai dar.
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