O HOLOCAUSTO BRASILEIRO

Ah... Meu pessimismo e ateísmo estavam, vamos dizer, arrefecidos... Coube à "cordialidade" do brasileiro acordá-los. Barbacena nunca mais!

Leituras que fortalecerão o nosso pessimismo.

  • "As Intermitências da Morte" de Saramago
  • "Os Ratos" de Dyonélio Machado

25.6.12

Um pouco de Educação.

Silêncio.
Idos dos anos 90, século passado. O Brasil abria seu coração na esperança de mudar a sua cabeça: os nós da ditadura, finalmente, começavam a ser desatados pela democracia renascida. O primeiro choro da criança, parida em 1985, demorou a atingir os ouvidos da sociedade que a concebeu. E o choro, feito alegria, veio forte com as primeiras eleições diretas para presidência da República.
A liberdade há-de vir quando os canalhas que usurpam o poder desaparecerem do cenário. Tal cenário há-de mostrar uma educação de qualidade - radiante e generosa - que alimentará a democracia brasileira para sempre.
Naqueles idos, participei de muitas atribuições de aulas para professores da rede pública em Marília. O sistema era democrático, acredito, sem vícios.
Junho de 2005. Passados mais de quinze anos, o país ainda escuta o choro da democracia, ora de alegria, ora de tristeza. A criança engatinha, tenta levantar-se, equilibra-se, cai, mas continua firme em sua intenção de não morrer.
Retorno para um salão da diretoria de ensino da região de Marília, buscando mais uma vez o objetivo deixado lá atrás. O dia é de atribuição de aulas para os professores da rede pública.
Nada mudou. O sistema é o mesmo: democrático, acredito, sem vícios.
Ainda um sonho, a educação de qualidade perde-se nos escaninhos da burocracia elitista. Perde-se nos discursos empolados dos intelectuais da hora. Perde-se nas entranhas do poder corrupto. Medrosa, opaca e sovina vai se escondendo para, quem sabe, não mais ser encontrada.
Surge uma centelha de esperança. Somos na sala cerca de cem almas que buscam o mesmo objetivo: ensinar.
A banca adentra o salão. Ao lado posicionam-se alguns representantes das escolas. O lugar é ótimo, amplo, arejado, limpo. As carteiras são novas e grandes, confortáveis. Vejo um sistema de som e vídeo moderno ao lado da banca. Tudo me leva a crer que alguma coisa tenha mudado no século vinte e um. Ledo engano.
Algazarra. Primeira palavra que me lembro para descrever o ambiente. Não me convenço e tomo o dicionário buscando o termo correto. Ali estão algaravia, algaraviada, balbúrdia, assuada, e chego a vozearia, s.f., ato de vozear, falar em voz alta; gritar; clamor de muitas vozes juntas.
A palavra vozearia expressa exatamente a realidade daquele ambiente recheado de professores, em suas maioria, mulheres. Nada contra, mas o substantivo é feminino! Mera coincidência?!
Pois bem. Naquelas reuniões de 1991 o ambiente era o mesmo: a vozearia dava o tom à reunião, nada mudou.
Confesso que me senti desrespeitado naquele e neste momento em que buscava e busco a realização de um sonho. Encontro um ambiente indisciplinado, feito por pessoas que buscam o mesmo caminho.
Exigimos disciplina dos alunos e somos indisciplinados. Somos uma vozearia total. Não respeitamos a banca que organiza o evento. A coordenadora esgoela palavras e o vozerio diminui. Os professores se apresentam para a atribuição, mas o vozeamento - para não dizerem que sou preconceituoso, utilizo um s.m. - retorna no tom da vozearia anterior, só que mais forte.
Retomo a primeira pessoa para me concentrar na atribuição. Impossível, melhor tentar entender o que ocorre.
As pessoas estão ali para, talvez, conversarem ou se comunicarem. Afinal não somos animais que seguem a vida solitários, mesmo em bandos. Ocorre que somos seres que não nos respeitamos como tal. A indisciplina é filha desse desejo de comunicação a todo custo. Necessitamos de conversa. Precisamos de falar mais alto para que nos ouçam. O professor não consegue calar-se. A vozearia é o reflexo do mundo atual da educação.
No mínimo, professores mal-educados (no sentido de malcriado) formam alunos idênticos, propiciam algaravia nas salas de aula, fomentam o desrespeito às pessoas e coisas. Estamos perdendo o tempo que passa para nós e para as crianças e jovens que, talvez, por isso, nos detestem.
Quem sabe o silêncio possa nos colocar no caminho de uma escola onde se busque a excelência do aprendizado. Um silêncio revelador em que cada professor repense e retome o seu papel de educador, formador de opinião, modelador de cidadãos, criador de almas. Um silêncio que viabilize a realização dos sonhos de todos, tendo o professor como o principal construtor da educação ideal e por consequência o principal construtor da democracia brasileira. Uma democracia tal qual uma casa indestrutível em que habite ali, simplesmente, uma criança que não chore, jamais...


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