O HOLOCAUSTO BRASILEIRO

Ah... Meu pessimismo e ateísmo estavam, vamos dizer, arrefecidos... Coube à "cordialidade" do brasileiro acordá-los. Barbacena nunca mais!

Leituras que fortalecerão o nosso pessimismo.

  • "As Intermitências da Morte" de Saramago
  • "Os Ratos" de Dyonélio Machado

3.10.09

A multidão. Os heróis.







Contardo Calligaris, psicanalista e escritor, expressa interessante tese sobre as massas na Revista Bravo de junho de 2009, na seção Primeira Fila, página 22:

"Detesta torcidas de futebol, cerimônias religiosas que hipnotizam multidões, discursos populistas e qualquer manifestação que se apoie no regozijo coletivo. Teme o coro em uníssono das massas. Acredita que um jovem, perambulando de madrugada pelas praças de Brasília, dificilmente botaria fogo num índio adormecido. Mas se o mesmo jovem encontrasse outros quatro, se os cinco comungassem umas cervejas, se trocassem opiniões preconceituosas à mesa do bar, se concluíssem que a noite pedia uma farra homérica, poderiam reunir coragem para praticar juntos uma atrocidade que não cometeriam sozinhos. - Por preferir os peixes sem cardume, adquiriu um inusitado cacoete de linguagem: expressar-se no contrafluxo. Quando ouve um comentário que o satisfaz, revela o agrado primeiro com uma ou duas negações: "Não, não. Eu concordo". É como se necessitasse avisar aos interlocutores que, de antemão, rejeita os consensos. É como se depositasse eternamente uma oferenda no altar das adversativas: "Eu concordo. Entretanto...". - Ainda não se apaziguou com o próprio berço, a Itália. O fascismo, impossível varrer da memória, floresceu por lá. E tudo graças à cegueira de indivíduos que, em grupo, pensavam enxergar mais longe. Seu querido pai, Giuseppe, um cardiologista, não engrossou o rebanho de Mussolini. Participou da Resistência e pagou caro pelo atrevimento. Perseguido, teve de se esconder nas montanhas. Contardo nasceu depois do calvário, em maio de 1948. Mesmo assim, nunca absolveu plenamente a pátria que desejou matar Giuseppe. - Passou por diversos lugares (Inglaterra, Suíça, França, EUA) até ancorar no Brasil. Antes de ler o italiano, alfabetizou-se em inglês. Já na lição inaugural, aprendeu uma palavra tão complicada quanto incomum: platypus (ornitorrinco), justamente o mamífero com bico que não sabe direito de onde é, se da água, da terra ou do céu."

Poderia incorporar à reflexão do psicanalista a ideia de que os Poderosos alicerçam o seu poder no domínio das massas. É a homogeneização das vontades como forma de facilitar a dominação. O século XX mostra-nos que Hitler foi o mestre na dominação das consciências individuais para fazer valer o seu poder e a história comprova de forma derradeira e animalesca a ideia. Atualmente os Poderosos criam concursos, cerimônias, pesquisas, jogos, premiações que colocam num plano mais elevado os modelos a serem seguidos pelos indivíduos. Tais modelos, extraídos de concursos de beleza, de olimpíadas, de premiações, buscam pacificar o homem comum que obviamente aceita a regra do jogo pois, quando no poder, fará a mesma coisa para concretizar a sua dominação. De premiações que abrangem todo o mundo - prêmio Nobel - passando por concursos de beleza - Miss Universo - ou eleições dos melhores do ano - Cerimônia do Oscar de Hollywood -  desembocam em concursos organizados por empresas - o Melhor Vendedor -, em reality shows - o vencedor de um milhão de dólares - até as mais prosaicas vividas pelas famílias como, por exemplo, o melhor aluno. Em todas essas ações um só objetivo: a dominação para perpetuação do poder sobre os indivíduos. Perpetuação, não somente do poder, mas também perpetuação do regime que se adotou em qualquer país, seja ele de direita ou de esquerda: os heróis, os poetas, os políticos, entre muitos, exaltados em praça pública com estátuas de bronze, agraciados com milionários prêmios, perpetuados com nomes de ruas, bairros, cidades até. Ocidente ou oriente, norte ou sul, ateus ou crentes, não importa,  a prática é a mesma: mitificar os dominadores para que a dominação se perpetue privilegiando os Poderosos.

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