"Um animal insignificante"
HÁ CERCA DE 13,5 BILHÕES DE ANOS, A MATÉRIA, A ENERGIA, O TEMPO E O ESPAÇO surgiram naquilo que é conhecido como o Big Bang. A história dessas características fundamentais do nosso universo é denominada física.
Por volta de 300 mil anos após seu surgimento, a matéria e a energia começaram a se aglutinar em estruturas complexas, chamadas átomos, que então se combinaram em moléculas. A história dos atómos, das moléculas e de suas interações é denominada química.
Há cerca de 3,8 bilhões de anos, em um planeta chamado Terra, certas moléculas se combinaram para formar estruturas particularmente grandes e complexas chamadas organismos. A história dos organismos é denominada biologia.
Há cerca de 70 mil anos, os organismos pertencentes à espécie Homo sapiens começaram a formar estruturas ainda mais elaboradas chamadas culturas. O desenvolvimentos subsequente dessas culturas humanas é denominado história.
Três importantes revoluções definiram o curso da história. A Revolução Cognitiva deu início à história, há cerca de 70 mil anos. A Revolução Agrícola a acelerou, por volta de 12 mil anos atrás. A Revolução Científica que começou há apenas 500 anos, pode muito bem colocar um fim à história e dar início a algo completamente diferente. Este livro conta como essas três revoluções afetaram os seres humanos e os demais organismos."
O texto acima é o início do livro "Sapiens - Uma breve história da humanidade " de Yuval Noah Harari, editora L&PM editores, pag. 11.
Ali estão as principais idéias que o autor vai desenvolver ao longo de cerca de 450 páginas do livro.
Em primeiro lugar ele coloca o homo sapiens em seu devido lugar no universo: um animal insignificante que, graças a uma infinidade de coincidências da natureza, o tornou rei dos animais. Rei assim, porque nós, no alto de nossa prepotência, nos declaramos. E com essa idéia aniquilamos a maioria dos seres vivos do planeta e devemos continuar nessa viagem até talvez aniquilarmos a nós próprios. Insignificante porque "gostemos ou não, somos membros de uma família grande e particularmente ruidosa chamada grandes primatas. Nossos parentes vivos mais próximos incluem os chimpanzés, os gorilas e os orangotangos. Os chimpanzés são os mais próximos. Há apenas 6 milhões de anos, uma mesma fêmea primata teve duas filhas. Uma delas se tornou a ancestral de todos os chimpanzés; a outra é nossa avó." (pag. 13)
Em segundo lugar, ele faz um resumo extraordinariamente bem feito, de como o universo se desenvolveu, independente da vontade do homo sapiens, que é um produto desse universo. Física, química, biologia levam à criação de organismos, inclusive o homo sapiens que, diferenciando-se de outros animais, cria a história. De um lado, temos o que ele chama de ordem natural e de outro, a história, a ordem imaginada. Aqui o sapiens se destacou e criou de forma artificial o mundo em que habitamos. Três ordens imaginadas contribuíram para alcançarmos o estágio atual: a ordem monetária, com a criação do dinheiro; a ordem imperial, com a criação da política e os processos de dominação dos povos e a ordem religiosa com a criação de religiões universais como o budismo o cristianismo e o islamismo.
Em último lugar, o autor relata as revoluções que afetaram o desenvolvimento do sapiens: a cognitiva, quando o desenvolvimento do cérebro humano o diferenciou de outros animais; a agrícola, quando se dominou as técnicas para a produção de alimentos e a científica com o domínio e o desenvolvimento da tecnologia e que se estende até os nossos dias.
Para o autor o fim da história está decretado. O que advirá no futuro é sombrio: "Há 70 mil anos, o homo sapiens ainda era um animal insignificante cuidando da sua prória vida em algum canto da África. Nos milênios seguintes, ele se transformou no senhor de todo o planeta e no terror do ecossistema. Hoje, está prestes a se tornar um deus, pronto para adquirir não só a juventude eterna como também as capacidades divinas de criação e destruição." (pag.427).
As cenas iniciais do filme de Kubrick, 2001 - Uma odisséia no espaço, de 1968, ilustram o que o Noah Harari discorre em seu livro: em algum canto do planeta nossos ancestrais, com o despertar da inteligência, adquire a capacidade de utilizar as ferramentas, inclusive para matar, prenúncio de sua forma constante de agir e transformar os rudimentos de um osso em tecnologia ao longo da história.